E a bandidagem sobe a Serra!
Capital nacional da moda íntima, setor que fatura cerca de R$ 600 milhões por ano, e a segunda maior produtora de flores do Brasil, superado apenas por Holambra (SP), Friburgo tem uma população estimada em 200 mil moradores (eram 178.653 no último Censo, em 2000). Distante 136km do Rio, a cidade fundada por suíços em 1818 passou os últimos anos contabilizando números negativos na área de segurança pública.
Único batalhão da Polícia Militar da região, o 11 BPM tem apenas 502 policiais para cuidar de um território de 4.040 quilômetros quadrados e oito municípios, incluindo Friburgo. Em ofício enviado no mês passado ao comandante geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, o deputado estadual Rogério Cabral (PSB), morador de Friburgo, alerta para o crescimento da violência e revela que recrutas estão sendo formados na cidade serrana para serem aproveitados na capital, reforçando o efetivo nos morros cariocas ocupados por Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Traficante do Rio julgado na serra
Um caso que pode dar uma dimensão do novo cotidiano do município apareceu na última quarta-feira no Fórum de Friburgo: o traficante Fabiano Inácio Silva, morador de Bangu, no Rio, foi condenado a 24 anos por homicídio e tentativa de homicídio. Ele comandou o "julgamento" de uma mulher no Morro Alta Floresta, no distrito de Conselheiro Paulino, um dos mais perigosos da cidade. Depois de supostamente assumir o comando do tráfico de drogas local, o bandido matou, a tiros de escopeta no rosto, Paloma da Costa Oliveira e ainda tentou assassinar Sara Jane Silva Alves. As duas eram acusadas pelos traficantes de serem informantes de uma facção rival e de entrarem em área proibida. Fabiano agiu com a ajuda de cinco adolescentes, supostamente traficantes locais. Mas o que mais surpreendeu as autoridades de Friburgo foi um detalhe no crime: antes de atirar, Fabiano ligou para traficantes de uma facção criminosa no Rio e perguntou ao chefe do bando: "Tenho sinal verde?". A história, com todos os detalhes, foi contada no julgamento por Sara, que, mesmo baleada, conseguiu sobreviver se fingindo de morta.
Fonte: Jornal O Globo, versão digital