O que poderia ser mais um atrativo turístico de Nova Friburgo,
atualmente é o cartão-postal do abandono. Trata-se da Rua Gertrudes
Stern, que liga o centro de Mury a Debossan, um trecho considerável da
antiga linha do trem.
A linha de trem, conforme A VOZ DA SERRA noticiou na coluna "Há 50
Anos” nas edições de 12 a 14 e de 19 a 21 de julho de 2014, era
responsável pela maior parte do escoamento da produção de toda a região.
Só de flores, eram transportados três mil quilos diariamente. A
suspensão do tráfego da Leopoldina, garantida pelo Decreto nº. 53.896 de
27 de abril de 1964, foi levada a cabo no dia 15 de julho de 1964.
Neste dia, a rede ferroviária Leopoldina suprimiu o ramal ferroviário
entre Cachoeiras de Macacu e Nova Friburgo. Mais tarde, sua estação de
passageiros, no centro da cidade, passou a ser a sede da Prefeitura.
Mesmo o vagão, que até a década de 70 era exibido com louvor na Praça
Getúlio Vargas, foi simplesmente reduzido à sucata. Então, a Rua
Gertrudes Stern não é apenas uma rua: é um dos capítulos de uma
história.
Cercada em boa parte pela mata nativa, a via possui nascentes,
árvores floridas e paredões rochosos, que a tornariam uma importante
rota turística não fosse o abandono em que se encontra o local. A
situação da rua continua sendo alvo de várias queixas encaminhadas à
redação do jornal.
A série de problemas existentes na rua já foi mostrada em diversas
matérias publicadas em A VOZ DA SERRA, mas parece longe de uma solução.
Na seção dedicada aos leitores também têm sido frequentes as reclamações
sobre as condições precárias da via, que está repleta de buracos e
trechos estreitos pela erosão às margens do Rio Santo Antônio. Sem
contar a falta de serviços básicos como limpeza e capina.
Os trechos estreitos pela erosão às margens do Rio Santo Antônio são outro alvo de reclamações
A comunidade apela por melhorias na pavimentação do local, que
serve como via alternativa em caso de acidente na estrada RJ-116, como
já ocorreu algumas vezes. Segundo moradores, caso haja necessidade de
trafegar pelo trecho à noite, o veículo pode até cair no rio devido ao
estreitamento de alguns pontos. O risco de assaltos também preocupa,
devido à má iluminação
As construções irregulares em determinados pontos da rua são outro
alvo de reclamações. Moradores do local já denunciaram casas localizadas
nas proximidades do Condomínio Sítio do Viaduto construídas sem
acompanhamento do Crea/RJ e sem compra e venda do terreno. "Apenas
invadiram e pronto, não obedecendo ao limite do rio que passa por trás.
Algumas casas, inclusive, colocaram seus muros a menos de um metro da
margem do rio. Pode isso?”, questiona um leitor em e-mail enviado
recentemente ao jornal.
A lista de queixas é acompanhada de uma grande insatisfação quanto à
falta de providências dos órgãos competentes na recuperação de um
importante endereço do município. Vale lembrar que o local já foi
referência para praticantes de caminhada e passeios de bicicleta, mas
anda perdendo espaço para outros pontos devido ao estado precário em que
se encontra.
Lei que cria o ‘caminho do trem’ não é aplicada
Em 2011, foi aprovada a Lei Municipal 4.017, de autoria do vereador
Professor Pierre, inspirada numa proposta de Pedro Paulo Lomba, membro
da Sociedade das Florestas do Brasil. A lei propõe recuperar e
revitalizar um espaço histórico e cultural marcante do Distrito de Mury —
"o Caminho do Trem” —, para desenvolver o hábito da caminhada e
incentivar o turismo histórico e ecológico do município, criando a
primeira via-parque de caminhada do país. O autor do projeto, no
entanto, lamenta as condições da Gertrudes Stern e das outras ruas da
antiga estrada de trem, e também destaca a falta de aplicação da lei.
"Inclusive, em 2012, membros de associações de preservação ferroviária,
quando estiveram em Nova Friburgo, viram com bons olhos a legislação,
vislumbrando alguma parceria com o município, a fim de também fazer do
‘Caminho do Trem’ um reencontro com a história do trem em Nova Friburgo,
que passa também pelo distrito de Riograndina, que igualmente merece
ser contemplado. Infelizmente, não vem sendo detectado interesse e
investimento da administração pública no desenvolvimento de vieses dessa
natureza em nosso município.”
Fotos por: Lúcio Cesar Pereira
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